sábado, 9 de novembro de 2013

Um pequeno trecho do amor.



        Os dedos se confundiam uns com os do outro, a barba se arrastava no meu pescoço, os arrepios se espalhavam pelo meu corpo, pouco a pouco, acompanhando a ponta de seus dedos que faziam um reconhecimento do território que era dele. Um sussurro ao pé do ouvido, um beijo na bochecha, um sorriso largo, um beijo na ponta do nariz. Volta e revira e joga e mexe e puxa, uma confusão gostosa e coreografada no improviso. Os beijos e os toques variavam a intensidade conforme nós combinávamos inconscientemente, os sorrisos não saiam dos nossos rostos, a mão dele apoiava a minha cabeça e um beijo digno de um Oscar. O ar fugia de nós e recuperávamos juntos, depois mais um beijo. Nossos dedos entrelaçados acima de nossas cabeças e um gemido abafado pelo beijo. Sorrisos.
      Ele se deitou ao meu lado e roubou um beijo na ponta do meu nariz, me puxou pra si e eu me aconcheguei no seu abraço. Ficamos alguns momentos em silêncio, as respirações foram desacelerando aos poucos e ele beijou o topo da minha cabeça. Eu virei, apoiando minha cabeça nas minhas mãos e fiquei ali o observando, ele sorriu. Estiquei-me e lhe dei um beijo sem pressa, ele segurou minha nuca, nossos olhos se prenderam e passamos um tempo com os narizes colado, com os olhares presos. Ele suspirou, eu sorri. Ele me deu um beijo.
- Eu te amo. - ele soltou como um sopro entre os nossos milhares de beijinhos. Eu beijei a ponta do seu nariz.
- Eu amo você. - eu sussurrei no seu ouvido, senti o seu corpo se arrepiar e ele beijou meu pescoço.
        Nos aconchegamos na certeza do nosso amor à flor da pele, no amor culpado pelas batidas aceleradas do coração, na falta de ar, nos arrepios. Nos aconchegamos um no outro, no abraço, no peito, no calor. Dormimos com a tranquilidade de sermos um do outro sem nos prender, sem nos perder. O nosso amor sem muitas regras e um pouco fora do convencional, mas nosso amor.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

It feels like home to me.


Ele não era o mais bonito. Seu rosto não seguia as proporções certas, talvez seus olhos fossem meio caídos, mas sempre tive uma queda por defeitos charmosos. Na verdade, sempre tive uma queda por homens charmosos e aquela touquinha meio caída, aquele sorriso torto, a risada estranha e solta, tudo nele era a definição de charme. O papo fluiu, ele pegou minha mão enquanto eu ia buscar minha cerveja no meio da mesa e eu sorri. Posso soltar um milhão de clichês aqui para descrever o nosso primeiro beijo, toda aquela história de fogos de artifícios e tenho certeza que se estivéssemos em pé, o meu pé ia levantar. O formigamento foi geral e o sorriso-pós-primeiro-beijo surgiu sincronizado nas duas bocas. Mais papo furado, planos, sonhos, tudo foi compartilhado. Apesar de ainda não saber seu sobrenome, já sabia que seu sonho era ter um cachorro "desses feios e pelados", por que ele gostava de ser diferente e gostava das coisas estranhas. Viramos o final de nossas respectivas cervejas, ele pediu a conta. Pegou minha a mão e foi me levando na direção da rua. A ponta da touca balançava conforme se movimentava, ele olhou pra trás e sorriu, naquele momento que eu tive a certeza que tava ferrada, meu coração derreteu um pouco e eu sorri. 

Ele assobiou e um táxi parou, eu entrei enquanto ele fazia uma reverência engraçada, como se eu fosse uma princesa, ou algo assim, sorri constrangida, ele riu e sentou ao meu lado dizendo o seu endereço para o velho taxista bigodudo. Eu o olhei questionando o endereço, ele disse que queria me mostrar uma coisa, perguntou se queria ir pra o meu hotel e eu ri, respondi com um balanço negativo da cabeça. Ele sorriu, um tanto aliviado, o que só me fez rir mais. Ele me puxou pra si e ficou abraçado comigo até chegarmos em seu prédio e era exatamente do jeito que imaginei, simples e bonito. Ele pagou o taxista e segurou a porta pra eu sair, envolveu minha cintura e foi me guiando, subimos três lances de escada e ele apontou pra uma porta com um filtro dos sonhos pendurado na porta, eu sorri. 

Nós entramos no seu "cafofo", como ele mesmo descreveu, eu tentei memorizar aquele espaço tão dele, o sofá era bonito e limpo, a televisão era enorme, tinha dois videogames, que eu logo fui investigar os jogos. Ele disse pra eu ficar à vontade e foi na cozinha. Espiei a estante enorme e vi vários livros que também estavam na minha estante. Espiei pelo corredor estreito e vi três portas, duas de frente uma pra outra e a última bem no fim do corredor. Coloquei minha bolsa em cima da mesa de jantar, peguei um livro que amava na estante e sentei no sofá. Ele tinha marcado a mesma página que eu. Sorri ao ver o amarelo destacando minha frase favorita. Ele voltou com duas cervejas e dois pedaços de bolo de chocolate, eu abri um sorriso largo, ele riu e disse que tinha feito mais cedo e precisava dividir com alguém. Elogiei o bolo depois de uns três pedaços, ele suspirou aliviado e eu ri. Depois de alguns minutos de concentração no bolo, perguntei o que ele queria me mostrar, ele sorriu e entrou na última porta do corredor, voltou com um violão e disse que quando me viu só conseguiu lembrar de uma música e precisava cantar pra mim. Eu ri, ele disse que era sério e eu sorri e expliquei que ria quando tava nervosa. Ele riu. Tocou uma música linda de algum cantor country, confesso que me surpreendi com a escolha da música e, também, que meus olhos lacrimejaram.

Depois da música ligamos um dos videogames e jogamos vários jogos, cansamos e ligamos algum filme meloso que eu escolhi, ficamos ali abraçados vendo filme, ele fazia cafuné com uma mão e acariciava minha mão com a outra, acabei dormindo e acordei no dia seguinte na cama dele, estiquei o braço e senti o vazio do meu lado, levantei e tentei descobrir qual das outras duas portas era o banheiro, escutei uma voz sonolenta que vinha da sala avisando que era a da direita, me arrumei o máximo que pude e fui para a sala. Perguntei se ele tinha dormido ali a noite toda, ele concordou com a cabeça ainda um tanto sonolento, coloquei sua cabeça no meu colo e fiz cafuné. Ele sorriu. Fizemos o almoço juntos e eu fui embora depois do lanche da tarde, ele me acompanhou até a rua e chamou um táxi pra mim. Nos despedimos com um beijo e ele pediu pra eu ficar. Pedi pra ele vir comigo, ele sorriu e entrou no táxi. No meu hotel, tomei banho, quando sai ele estava sentado na cama, olhando para o teto, meio distraído. Perguntei se tinha algum problema, ele forçou um sorriso e disse que ia sentir minha falta, eu sorri. 

- É sério, eu sei que você vai embora depois de amanhã, mas eu não quero acreditar nisso, eu sei que a gente se conheceu ontem, mas parece que faz um milhão de anos. Você sabe segredos meus que nem meus melhores amigos sabem e eu acho que sei os seus também. Quando eu te pedi pra ficar antes de entrar no táxi, era pra você ficar pra sempre, não só hoje, nem só amanhã. Fica. - ele pediu com algumas lágrimas nos olhos, eu endureci e me assustei - tenho essa reação quando alguém diz algo bonito pra mim -, ele mordeu o lábio inferior e eu sentei ao seu lado.

- Eu não sei o que falar, ninguém nunca foi tão legal comigo. Você me passa sensação de confiança, de lar, sabe? É, realmente, como se eu já conhecesse seus olhares, seus sorrisos, na verdade, eu já conheço. Eu te conheço e você me conhece mais do que muita gente que já tá com a gente há vários anos. Mas... - suspirei e ele olhou pro teto - Eu não posso ficar, eu tenho que terminar minhas coisas lá em casa, não dá. - lhe dei um beijo na bochecha e ele me abraçou forte. 

- Então, fica mais uns dias, adia sua volta. - ele praticamente suplicou e eu concordei. Ele sorriu. Ia ficar mais uma semana, nos contentamos em ter mais sete dias pra nós. Dormimos juntos, passeamos no parque, fomos ao cinema, ele me deu flores, me deu vários beijos-surpresa, escreveu uma música pra mim, eu escrevi um texto pra ele, nadamos no lago, criamos uma coisa linda entre nós e, finalmente,  nos apaixonamos. Eu voltei, mas pela primeira vez na minha vida, dei uma chance ao amor e, principalmente, ao amor à distância, nos dedicamos, nos vemos sempre que podemos, nos amamos e eu tenho certeza que encontrei a pessoa certa naquela noite quente, naquele bar no centro de São Paulo, já faz dois anos e no meio do ano que vem vamos ficar juntos de verdade, ele conseguiu um emprego aqui no Rio, já arrumei meu apartamento pra quando ele chegar e, finalmente, poder ser o nosso apartamento. Que venha o resto das nossas vidas. 


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

-Semtítulo-


Não te peço muito, no máximo um carinho ou dois
Também, um pouco de cuidado
Comigo, contigo
É que eu já andei por uns caminhos errados
Mas de uns tempos pra cá
Tá tudo ok
Posso dizer que achei um caminho
Pra chamar de meu, sabe? Pra ser eu
Talvez você queira vir nele comigo
Pode também misturar
O seu, o meu, a gente
Até me bagunça, se quiser
Só não me machuca, nem se machuca
E, ah, não me deixa fugir
É só que, às vezes, eu tenho medo de ser feliz.




terça-feira, 10 de setembro de 2013

Timing.


Um sorriso se destacou entre aquelas luzes coloridas e aquela música sem sentido. Ele levantou a garrafa de cerveja como um cumprimento e sorri de volta, sem graça, fitando meus pés logo em seguida... Ele tinha esse efeito sobre mim. Ele deixou algum dinheiro no bar e foi andando na minha direção, meus pés dela saíram do chão quando os braços fortes e tatuados dele me envolveram, me apertaram.
- Quanto tempo, pequena. - ele sussurrou no meu ouvido causando arrepio instantâneo em lugares que eu nem lembrava que arrepiavam. Eu apertei seus ombros o mais forte que pude e lhe dei um beijo na bochecha. Sussurrei um "oi" meio sem jeito, meio ou cheio de saudades. Meus pés voltaram ao chão... Mais ou menos. Eu ajeitei meu cabelo, numa tentativa de parecer casual. Ele sorriu. Colocou uma mecha do meu cabelo pra trás da minha orelha e olhou pra minha alma, me senti nua ali na frente daqueles olhos que já me conheciam tão bem, mas que ao mesmo tempo pareciam tão estranhos. 
- Quanto tempo. - falei mais pra mim que pra ele. Ele gritou perguntando o que eu tinha falado, a música estava mais alta do que antes ou eu apenas tinha voltado a escutá-la. Balancei a cabeça em negativo e ele riu. 
- Vamos pra outro lugar? - ele perguntou no meu ouvido, dessa vez sem sussurrar, o que causou um certo incômodo. Olhei desconfiada pra ele. - Pra gente conversar, mocinha. - Ele brincou e passou o dedo na linha do meu maxilar e depois apertou meu nariz. Ele sempre fazia isso. Fiz que sim com a cabeça e ele pegou minha mão e o choque se espalhou pelo meu corpo. Porém, nada de dedos entrelaçados. Não sei se fiquei mais aliviada ou decepcionada. Ele pagou o que consumimos e me levou pro restaurante na rua de baixo da boate. Era uma pizzaria qualquer que ficava aberta 24/7 e tinha atendentes nada simpáticos. Não trocamos uma palavra até sentarmos de frente um para o outro, naquela cadeira gordurenta, éramos apenas nós dois e os antipáticos. 
- Caraca, que saudade. - ele soltou meio do nada, me pegando de surpresa enquanto respondia uma mensagem de uma amiga. Guardei o celular e vi seus olhos brilhando do jeito que eu sempre gostei e sempre foi um brilho só meu, só pra mim.
- Quase um ano... - falei meio reflexiva, ele fez uma cara triste. Eu fiz biquinho e ele riu. Pulou para a cadeira ao meu lado e me abraçou. Ficamos sem falar por alguns segundos, meus olhos encheram de lágrimas. Soltei-o antes que as lágrimas fugissem. - É, eu senti sua falta. - confessei. Ele olhou minha alma de novo e me deu um beijo na ponta do nariz. Continuou com um braço em volta do meu ombro e a pizza chegou. Frango. A favorita dele. Nunca entendi, mas aprendi a gostar. 
- Nunca entendi o motivo de você ter ido embora. - ele falou olhando pro teto depois de quase engolir a pizza sozinho. Eu engoli em seco e fechei os olhos. Eu que tinha ido embora, mas eu precisava ir.
- Não faz isso. - implorei. Ele mordeu o lábio inferior e sacudiu a cabeça. Eu sabia que ele não ia desistir. Tinha adiado aquela conversa, mas não ia passar daquela noite. - Eu tive que vir pra cá! Eu tinha passado na faculdade e precisava vir. Era meu sonho. - cuspi as palavras tão rápido que não sei como ele entendeu, mas ele sempre me entendia. 
- Eu sei disso. - ele sussurrou. - Mas por que você deixou a gente? Você sabia que eu vinha pra cá depois. 
- Eu precisava vir sozinha.
- Você não me queria mais.
- Sempre te quis, nunca deixei de te querer por um segundo nesses 11 meses. Mas eu precisava viver um pouco sozinha. Nossos dois anos juntos foram intensos e você sabe que eu me apavoro com essas coisas e... A gente ia ficar longe por muito tempo, eu tinha medo de não dar certo essa história de distância pra gente. Desculpa, tá? Foi puro medo de fazer alguma coisa errada e de te perder de vez. - falei segurando as lágrimas que estavam presas na garganta. Ele fechou os olhos e sorriu um pouco.
- Eu entendo. Você me deixou pra viver um pouco a vida solteira e curtir o primeiro ano da faculdade.
- NÃO! - quase gritei e ele pulou com o susto. - Não foi isso, Alex, não foi. Eu tinha medo de fazer algo de errado e te magoar, nunca fui boa em relacionamentos, imagina em um a distância! 
- Você é ótima com relacionamentos. Pelo menos comigo.
- Eu sou a minha melhor versão contigo. - disse baixinho, mais pra mim que pra ele. Ele sorriu, dessa vez de verdade. - Desculpa, Al. De verdade, foi medo de errar. Não to te pedindo pra voltar, nem sabia que você já tava aqui, na verdade. Mas eu ainda te amo e tive que me segurar todos os dias pra não te ligar, não voltar pra aquela cidadezinha-lixo. Nem por um segundo eu deixei de te amar. - soltei olhando nos seus olhos e algumas lágrimas escaparam dos meus olhos e uma escapou dos dele. Ele olhou pro chão e pro teto.
- Sabe qual o seu problema? Você não confia em você. Porra, Gi. Eu confio em você. Sempre confiei e vou sempre confiar. Eu acredito em você e queria que você fizesse o mesmo. - ele falou segurando meu rosto. Balancei a cabeça com um sorriso aliviado.
- Eu precisava desse ano pra mim, pra aprender a fazer essas coisas por mim e comigo, sozinha. - disse. Ele abriu um sorriso largo. - E eu aprendi, eu confio em mim agora, eu sei que eu sou capaz de tudo que você sempre disse que eu era. - Ele me deu um beijo. Meu coração quase parou.
- Volta pra mim? - ele sussurrou com as nossas testas coladas uma na outra.
- Eu não sou mais aquela menininha assustada e desconfiada, você ainda me quer? - eu brinquei.
- Eu nunca acreditei naquela sua versão. - ele disse antes de me beijar mais uma vez. Pagamos a conta, pegamos um táxi e paramos no apartamento dele. Elevador. Mãos. Boca. Porra, cadê a chave? Desculpa a bagunça. Uhum. Beijo. Pescoço. Arrepio. Amor. Suor. Saudade. Cansaço. Te amo. Eu amo você e morri de saudades. Vou tomar um banho. Ok. Ele saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura e um sorriso no rosto. Eu vestia a minha-blusa-dele e enquanto prendia o cabelo num coque ele sentou ao meu lado e beijou meu pescoço. Eu sorri.
- Achei que a gente só ia conversar. - brinquei. Ele riu e me puxou pra si.
- Dorme aqui hoje comigo. - ele pediu com seu jeito de menino abandonado e eu concordei. Não demorou muito pra eu ter uma gaveta com as minhas coisas, uma parte no armário, uma chave, um anel, um marido.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um errado certo.



Só mais essa noite, eu disse pra mim mesma enquanto seu peito subia e descia num ritmo tranquilo que chegava a ser irônico comparado com a velocidade que os pensamentos percorriam minha cabeça. Eu já sentia o aperto da manhã seguinte, sufocando aquela confissão que tentava pular pra fora. Pensei em evitar o inevitável e sair escondida, mas eu só queria ficar ali, deitada no seu peito, sentindo o sobe-desce, tentando copiar o ritmo da sua respiração, mas meu coração já gritava. Gritava para eu ficar. Mas eu tinha tomado uma decisão, você não sabia, mas quando o sol aparecesse eu ia desaparecer, só queria te dar um último beijo. Não te contei, nem pretendia contar. Espero que você entenda depois da segunda ou terceira semana. Espero que você não tente me ligar, de verdade. Espero que você leia nos meus olhos quando eu me despedir amanhã, veja neles meu pedido de desculpas junto com o meu adeus.

Eu me viro pro outro lado, me encolho como um feto, o aperto é enorme, tudo queima dentro de mim, tenho vontade de correr pro banheiro e colocar toda essa dor pra fora. Mas você ia acordar, ia cuidar de mim e talvez fizesse eu mudar de ideia, sem nem saber de nada. Talvez eu devesse ir embora agora, não sei se consigo me despedir dos seus olhos, do seu sorriso-de-bom-dia-flor. Eu me levanto devagar, coloco meu jeans e fico com a sua blusa, você sempre disse que eu ficava bem com ela. Arrumo minhas coisas, rabisco algumas coisas num papel que se misturam com lágrimas e suor das minhas mãos. Largo aquele papel molhado do seu lado e espero que você entenda os meus motivos e a minha letra. Fecho a porta atrás de mim e jogo a minha cópia da chave por debaixo da porta. O aperto e a dor escapam pelos meus olhos e os óculos escuros mais um sorriso ensaiado ajudam a não preocupar o porteiro. São cinco da manhã e minha casa nunca pareceu tão longe da sua. Me jogo na minha cama, acho que nem tranquei a porta, choro todas as dúvidas e me livro de toda a dor ajoelhada no banheiro, encosto a cabeça no azulejo frio e finalmente adormeço. Lá pelas oito acordo com a nossa música berrando no meu celular. Ignorar. Silencioso. Entro no banho. Tento tirar a dor com sabão, sem sucesso. Ainda enrolada na toalha vejo meu celular. Quinze chamadas perdidas. Cinco mensagens. "Flor, que porra é essa?". "Flor, pelo amor de Deus, fala que é brincadeira.". "Ei... Já deu. Que houve? Volta pra cá. Conversa comigo.". "Caralho! Me atende!". "Eu to indo prai.". Meu sangue gelou. Eu conseguia ignorar suas chamadas, mas não sua voz do lado de fora da minha porta e eu nem tinha trancado. Corri para a porta, meu cabelo molhou o quarto inteiro. Você já tava sentado no sofá. Seus olhos mais vermelhos que os meus, sua regata colada no corpo de tanto suor. Você pediu pra eu te explicar, abriu a carta e a leu pra mim.

"Lindo, acho que a gente já se envolveu demais.", você engoliu o choro e continuou: "Desde o começo te falei que a gente não deveria se envolver tanto, sempre estrago as coisas e tenho medo de estragar você. Eu sou tipo uma granada, chego meio devagar, mas pode ter certeza que eu vou machucar e quebrar tudo que estiver a minha volta e lindo, eu não quero te magoar, nunca. Então, acho melhor eu ir embora agora, antes que dê tudo errado, quero que você lembre da "Flor" que existe na sua cabeça, apesar de eu sempre ter achado a sua versão de mim completamente errada e exagerada.", você revirou os olhos nessa hora, olhou pra mim e eu fitava o chão controlando as lágrimas o máximo que pudia. "Eu não sou tudo isso, mas gosto do jeito que você me vê e não quero estragar essa versão linda que você criou. Por isso que eu vou sumir, pra eu não te estragar e não me estragar pra você. Eu te amo.", você soltou o choro junto com uma risada e falou que eu era ridícula, do jeito brincalhão de sempre. Cai no chão, minhas pernas já não me sustentavam. Você se ajoelhou na minha frente e me abraçou.

- Flor, essa foi a primeira vez que você disse que me amava. Na porra de uma carta que era pra se despedir de mim. Você sabe o quanto isso é contraditório e doente? Eu te amo, flor. Mas não é por isso que eu quero te deixar, eu sou normal, flor, eu te amo e quero ficar contigo. Sabe o quanto que isso não faz sentido? Você me ama e não quer ficar comigo! Presta atenção, doidinha. Eu não me importo com essa sua habilidade de magoar as pessoas, eu não me importo com os outros casos, eu não me importo com o quanto você pode ter sido uma filha da puta até três meses atrás. Não me importo. Eu quero ficar com você. Flor. Eu sei que você quer ficar comigo. Isso que você fez, sinceramente, só mostra o quanto você mudou. Você foi capaz de me deixar na tentativa de me fazer feliz, mas eu não vou ficar feliz sem você. Eu também já errei muito nessa vida e não é por isso que eu vou te deixar. Vou ser egoísta, vou te querer só pra mim. Então, por favor, para de ser essa pessoa maravilhosa e seja egoísta junto comigo. Fica comigo. Volta lá pro meu-seu-nosso apartamento. Deita naquela porra de cama e dorme comigo. - Você levantou meu rosto e meus olhos quase estouravam de tantas lágrimas presas ali - Se solta, flor. Se permite. - uma foi escapando, seguida de outra e sem nenhum de esforço elas rolaram livres pelo meu rosto. Você colocou meu cabelo pra trás da minha orelha e me beijou.

Você me pegou no colo e me colocou na cama. Depois de algumas horas no meu apartamento, você mandou eu arrumar minha mala e ir passar a semana com você. Eu sabia que seus olhos não iam permitir que eu negasse. Coloquei um vestido e enfiei algumas roupas e outras coisas na mala. Você sorriu e eu sorri de volta, derrotada, já entregue. Talvez aquilo fosse um erro, talvez daqui alguns meses eu estivesse no meu apartamento sozinha, chorando por ter magoado mais uma pessoa ou talvez eu que estivesse magoada. Nós dois éramos errados da maneira mais óbvia que se pode ser. Mas eram esses erros que nos uniam, eram os nossos passados errados que nos faziam querer um futuro nosso e certo. É, talvez fosse um erro eu pendurar as minhas roupas no seu armário, talvez vender meu apartamento e me mudar pro seu seja um erro. Mas de todos os meu erros, tenho certeza que você foi, é e vai ser o melhor.


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Amor, esquisito amor.



Ei, meu bem, já te falei que não é pra vir. Não quero que você apareça aqui em casa assim sem avisar, não quero. Você insiste em me ligar de madrugada e eu digo que não dá, mas depois de dez minutos você bate na minha porta e pede pra entrar. Ai, nego, você acaba comigo. Já te disse que agora não dá. Eu não quero mais. Vai embora, por favor. Mas ai você me olha assim com esse teu jeitinho de homem magoado, chega todo mole, como se tivesse doente, já vai entrando e me roubando um beijo, me pede colo e começa a chorar.

Chora por ela, reclama, fala que vai largar e que vai recomeçar comigo. Eu nem abro mais aquele sorriso que eu costumava abrir, eu já sei que amanhã você não vai me atender, na verdade, eu nem vou mais te ligar. Você não sabe como dói ser o seu porto seguro, ser a única que não vai conseguir te impedir de entrar. Eu queria ter essa força de te empurrar, gritar e te falar pra nunca mais me ligar, mas eu não resisto aos seus olhos cor-de-céu. Ai, nego, dói muito ter que mexer nos seus cabelos enquanto você chora por outra mulher. Você sabe que comigo ia ser diferente, mas você parece um viciado e eu sempre me prometi nunca me envolver com gente assim, mas nunca achei que fosse amar um homem viciado em outra mulher.

Eu sei que você me ama, eu sei, não precisa me dizer. Você sempre diz entre os seus soluços que queria conseguir largar dela e depois repete um milhão de vezes que não consegue e a cada vez que você repete esse mantra eu sinto uma faca me cortando. Mas eu cansei nego, eu cansei. Você tem que entender o meu lado. Eu não quero mais ficar aqui de palhaça te esperando ligar em uma madrugada qualquer. Ou você se decide ou você me esquece. Não quero mais ficar no meio desse tiroteio, não aguento mais ser o seu porto seguro. Eu sou a sua certeza, mas eu preciso ter alguma certeza de que um dia você vai tá aqui, comigo.

Presta atenção, olha pra mim, levanta e sai daqui. Eu não to brincando agora, meu bem. Eu preciso fazer isso por mim e por você. A gente precisa decidir se a gente vai continuar amando desse jeito esquisito, se você vai largar esse vício e se eu vou largar de ser besta. Eu to tomando o primeiro passo agora, to largando de ser besta. Não me liga, me dá um tempo, me deixa em paz, me deixa pensar um pouco, ficar sozinha. E vai ver se você quer viver esse amor doente com ela, pensa um pouco e pensa em mim, só não me manda mais essas mensagens na madrugada.


Eu não to te pedindo um amor de cinema, não to te pedindo nada perfeito. Eu só quero algo concreto, cansei desse jogo de segurar e soltar que você adora brincar. Eu quero algo que eu saiba de verdade o que é. Mesmo que isso signifique te perder, eu prefiro ter certeza que você nunca mais vai voltar do que ficar brincando de te esperar. Então, nego, vai... E só volta se for pra ficar. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Ele não queria, nem podia.


Um aperto no coração descomunal a tirou do sono tranquilo, era aquele aperto já conhecido que só o rosto dele causava. Já fazia algum tempo que ele não invadia seus sonhos, nem perturbava sua mente, mas naquela noite doeu e ela deixou doer. Não tentou impedir as lágrimas de rolarem pelo seus rosto, se permitiu sentir aquele aperto.

Suas mãos agarravam o lençol enquanto as mensagens que ele mandava ecoavam na sua mente. O que ele falou logo depois de quase tê-la beijado, na noite em que se despediram pela primeira vez. Ela sentia a mesma dor que sentira naquela noite. E continuava vendo o coelho na Lua.

A ferida tinha aberto novamente e ela sabia o porquê. Foi o filme. Assistira mais cedo o filme que ele tinha prometido assistir com ela. Lembrou das madrugadas, das conversas, do: "Você tá diferente, tá com voz de mulher." que ele soltou em uma conversa de vídeo. Lembrou da foto que partira seu coração pela última vez, como prometeu pra si mesma. Realmente, aquela foi a última, afinal, não tem como quebrar algo já quebrado. Mas ele, ah, ele ainda conseguia pisar nos cacos.

Doeu, ainda doía. Mas ela aprendeu a lidar com a dor, ensaiou seu melhor sorriso e o coloca no rosto todos os dias. Vestiu a fantasia de mulher forte e seguiu em frente. Ele causou um dano irreparável, mas ela aprendeu a deixar de lado, a lidar com aquilo. Ela aprendeu a gostar de estar sozinha, aprendeu a gostar dela e a se dar o valor que merece.
É só que de vez em quando bate saudades do que não foi - mas poderia ter sido - e a dor é tão forte que armadura nenhuma aguenta.